Na quinta-feira, a Austrália aprovou leis polêmicas que permitem que espiões e policiais bisbilhotem as comunicações criptografadas de suspeitos de terrorismo e criminosos, já que especialistas alertaram que os “poderes sem precedentes” têm implicações de longo alcance para a segurança cibernética global.
Tem havido um amplo debate sobre as leis e seu alcance além das costas da Austrália, no que é visto como o último golpe entre governos globais e empresas de tecnologia sobre segurança nacional e privacidade.
De acordo com a legislação, Canberra pode obrigar provedores locais e internacionais - incluindo gigantes da comunicação no exterior como Facebook e WhatsApp - a remover proteções eletrônicas, ocultar operações secretas de agências governamentais e ajudar com acesso a dispositivos ou serviços.
As autoridades australianas também podem exigir que essas demandas sejam mantidas em segredo.
O governo conservador pressionou para que o projeto fosse aprovado antes do parlamento aumentar para o ano desta semana, dizendo que as novas potências eram necessárias para impedir ataques terroristas durante o período festivo.
Um acordo de última hora foi fechado com o Partido Trabalhista da oposição sobre suas demandas por mais supervisão e salvaguardas quando as leis são usadas, com uma revisão da legislação a ser realizada nos meses 18.
O governo também concordou em considerar novas emendas ao projeto no início do próximo ano.
O assessor nacional de segurança cibernética Alastair MacGibbon disse que a polícia está “ficando cega ou surda por causa da criptografia” usada pelos suspeitos.
Afastando os avisos de gigantes da tecnologia de que as leis prejudicariam a segurança da Internet, MacGibbon disse que seriam semelhantes às interceptações tradicionais de telecomunicações, atualizadas apenas para absorver as tecnologias modernas.
Empresas de comunicação global, incluindo Google e Twitter, disseram repetidamente que a legislação os forçaria a criar vulnerabilidades em seus produtos, como por decriptografar mensagens em aplicativos, que poderiam ser explorados por maus atores.
Uma proteção central nas leis para impedir que as autoridades obriguem as empresas a criar uma “fraqueza sistêmica” em seus produtos continua mal definida, dizem os críticos.
O Law Council of Australia, o órgão máximo da profissão jurídica, disse que tinha “sérias preocupações” sobre as mudanças.
“Agora temos uma situação em que poderes sem precedentes para acessar comunicações criptografadas são lei, embora o parlamento saiba que existem problemas sérios”, disse o órgão em um comunicado.
Especialistas como o relator especial da ONU sobre o direito à privacidade, Joseph Cannataci, descreveram o projeto de lei como “mal concebido” e “igualmente provável de colocar a segurança em risco”.